sábado, 21 de fevereiro de 2015

Carta aberta à Leticia Fernandes e ao jornal O Globo

Por Michelle Daher Vieira no seu Perfil do FaceBook

Antes de tudo, gostaria de deixar bem claro que não estou falando em nome da Petrobras, nem em nome dos organizadores do movimento “Sou Petrobras”, nem em nome de ninguém que aparece nas fotos da matéria. Falo, exclusivamente, em meu nome e escrevo esta carta porque apareço em uma das fotos que ilustram a reportagem publicada no jornal O Globo do dia 15 de fevereiro, intitulada “Nova Rotina de Medo e Tensão”.
Fico imaginando como a dita jornalista sabe tão detalhadamente a respeito do nosso cotidiano de trabalho para escrever com tanta propriedade, como se tudo fosse a mais pura verdade, e afirmar com tamanha certeza de que vivemos uma rotina de medo, assombrados por boatos de demissões, que passamos o dia em silêncio na ponta das cadeiras atualizando os e-mails apreensivos a cada clique, que trabalhamos tensos com medo de receber e-mails com represálias, assim criando uma ideia, para quem lê, a respeito de como é o clima no dia a dia de trabalho dentro da Petrobras como se a mesma o estivesse vivendo.
Acho que tanta criatividade só pode ser baseada na própria realidade de trabalho da Letícia, que em sua rotina passa por todas estas experiências de terror e a utiliza para descrever a nossa como se vivêssemos a mesma experiência. Ameaças de demissão assombram o jornal em que ela trabalha, já tendo vários colegas sendo demitidos[1], a rotina de e-mails com represálias e determinando que tipo de informação deve ser publicada ou escondida devem ser rotina em seu trabalho[2], sempre na intenção de desinformar a população e transmitir só o que interessa, mantendo a população refém de informações mentirosas e distorcidas.
Fico impressionada com o conteúdo da matéria e não posso deixar de pensar como a Letícia não tem vergonha de a ter escrito e assinado. Com tantas coisas sérias acontecendo em nosso país ela está preocupada com o andar onde fica localizada a máquina que faz o café que nós tomamos e com a marca do papel higiênico que usamos. Mas dá para entender o porque disto, fica claro para quem lê o seu texto com um mínimo de senso crítico: o conteúdo é o que menos importa, o negócio do jornal é falar mal, é dar uma conotação negativa, denegrir a empresa na sua jornada diária de linchamento público da Petrobras. Não é de hoje que as Organizações Globo tem objetivo muito bem definido[3] em relação à Petrobras: entregar um patrimônio que pertence à população brasileira à interesses privados internacionais. É a este propósito que a Leticia Fernandes serve quando escreve sua matéria.
Leticia, não te vejo, nem você nem O Globo, se escandalizado com outros casos tão ou mais graves quanto o da Petrobras. O único escândalo que me lembro ter ganho as mesma proporção histérica nas páginas deste jornal foi o da AP 470, por que? Por que não revelam as provas escondidas no Inquérito 2474[4] e não foi falado nisto? Por que não leio nas páginas do jornal, onde você trabalha, sobre o escândalo do HSBC[5]? Quem são os protegidos? Por que o silêncio sobre a dívida da sonegação[6] da Globo que é tanto dinheiro, ou mais, do que os partidos “receberam” da corrupção na Petrobras? Por que não é divulgado que as investigações em torno do helicoca[7] foram paralisadas, abafadas e arquivadas, afinal o transporte de quase 500 quilos de cocaína deveria ser um escândalo, não? E o dinheiro usado para construção de certos aeroportos em fazendas privadas em Minas Gerais [8]? Afinal este dinheiro também veio dos cofres públicos e desviados do povo. Já está tudo esclarecido sobre isto? Por que não se fala mais nada? E o caso Alstom[9], por que as delações não valem? Por que não há um estardalhaço em torno deste assunto uma vez que foi surrupiado dos cofres públicos vultosas quantias em dinheiro? Por que você e seu jornal não se escandalizam com a prescrição e impunidade dos envolvidos no caso do Banestado[10] e a participação do famoso doleiro neste caso? Onde estão as manchetes sobre o desgoverno no Estado do Paraná[11]? Deixo estas perguntas como sugestão e matérias para você escrever já que anda tão sem assunto que precisou dar destaque sobre o cafezinho e o papel higiênico dos funcionários da Petrobras.
A você, Leticia, te escrevo para dizer que tenho muito orgulho de trabalhar na Petrobras, que farei o que estiver ao meu alcance para que uma empresa suja e golpista como a que você trabalha não atinja seu objetivo. Já você não deve ter tanto orgulho de trabalhar onde trabalha, que além de cercear o trabalho de seus jornalistas determinando “as verdades” que devem publicar, apoiou a Ditadura no Brasil[12], cresceu e chegou onde está graças a este apoio. Ao contrário da Petrobras, a empresa que você se esforça para denegrir a imagem, que chegou ao seu gigantismo graças a muito trabalho, pesquisa, desenvolvimento de tecnologia própria e trazendo desenvolvimento para todo o Brasil.
Quanto às demissões que estão ocorrendo, é muito triste que tantas pessoas percam seu trabalho, mas são funcionários de empresas prestadoras de serviço e não da Petrobras. Você não pode culpar a Petrobras por todas as mazelas do país, e nem esperar que ela sustente o Brasil, ou você não sabe que não existe estabilidade no trabalho no mundo dos negócios? Não sabe que todo negócio tem seu risco? Você culpa a Petrobras por tanta gente ter aberto negócios próximos onde haveria empreendimentos da empresa, mas a culpa disto é do mal planejamento de quem investiu. Todo planejamento para se abrir um negócio deveria conter os riscos envolvidos bem detalhados, sendo que o maior deles era não ficar pronta a unidade da Petrobras, que só pode ser culpada de ter planejado mal o seu próprio negócio, não o de terceiros. Imputar à Petrobras o fracasso de terceiros é de uma enorme desonestidade intelectual.
Quando fui posar para a foto, que aparece na reportagem, minha intenção não era apenas defender os empregados da injustiça e hostilidades que vem sofrendo sendo questionados sobre sua honestidade, porque quem faz isto só me dá pena pela demonstração de ignorância. Minha intenção era mostrar que a Petrobras é um patrimônio brasileiro, maior que tudo isto que está acontecendo, que não pode ser destruída por bandidos confessos que posam neste jornal como heróis, por juízes que agem por vaidade e estrelismos apoiados pelo estardalhaço e holofotes que vocês dão a eles, pelo mercado que só quer lucrar com especulação e nunca constrói nada de concreto e por um jornal repulsivo como O Globo que não tem compromisso com a verdade nem com o Brasil.
Por fim, digo que cada vez fica ainda mais evidente a necessidade de uma democratização da mídia, que proporcionará acesso a uma diversidade de informação maior à população que atualmente é refém de uma mídia que não tem respeito com o seu leitor e manipula a notícia em prol de seus interesses, no qual tudo que publica praticamente não é contestado por não haver outros veículos que o possa contradizer devido à concentração que hoje existe. Para não perder um poder deste tamanho vocês urram contra a reforma, que se faz cada vez mais urgente, dizendo ser censura ou contra a liberdade de imprensa, mas não é nada além de aplicar o que já está escrito na Constituição Federal[12], sendo a concentração de poder que algumas famílias, como a Marinho detém, totalmente inconstitucional.
Sendo assim, deixo registrado a minha repugnância em relação à matéria por você escrita, utilizando para ilustrá-la uma foto na qual eu estou presente com uma intenção radicalmente oposta a que ela foi utilizada por você.
Fontes:
[1] Demissões nas Organizações Globo:
http://www.conexaojornalismo.com.br/colunas/cultura/novasmidias/demissoes-do-globo-estao-relacionadas-a-processo-milionario-na-justica-67-36921
http://radiodeverdade.com/tag/demissoes-na-radio-globo/
http://www.parana-online.com.br/editoria/almanaque/news/836519/?noticia=DEMISSOES+DENTRO+DA+REDE+GLOBO+PREOCUPAM+FUNCIONARIOS
http://www.portalimprensa.com.br/noticias/brasil/70198/o+globo+faz+cortes+na+redacao+demite+artur+xexeo+e+outros+jornalistas
http://blogs.odia.ig.com.br/leodias/2015/01/29/globo-inicia-demissoes-no-jornalismo/
[12] CF/88
Diz o artigo 220 da Carta, no inciso II do parágrafo 3°:
II – estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade de se defenderem de programas ou programações de rádio e televisão que contrariem o disposto no art. 221, bem como da propaganda de produtos, práticas e serviços que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente.
Já o parágrafo 5° diz:
Os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio.
E o artigo 221. por sua vez, prescreve:
Art. 221. A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios:
I – preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas;
II – promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação;
III – regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei;
IV – respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Por que nenhum jornalista quis ouvir a advogada da Odebrecht?

Paulo Nogueira, 19/02/2015


Se um dia a posteridade quiser aferir a miséria do jornalismo brasileiro nestes tempos, bastará consultar o desabafo da advogada Dora Cavalcanti, que defende a Odebrecht no caso Petrobras.
Num artigo publicado na Folha, ela contou que nem um único jornalista a procurou para conversar sobre o encontro que ela teve com o ministro José Cardozo no dia 5 de fevereiro.
Repito: nem um. Zero.
Que havia interesse jornalístico na reunião é evidente. Basta ver, primeiro, o tom apocalíptico com que a mídia a noticiou. E depois a reação histérica e despropositada de Joaquim Barbosa e do juiz Sérgio Moro.
Por que, então, ninguém foi atrás de uma pessoa que participou do encontro?
É que a mídia brasileira não quer ouvir ninguém que traga pontos de vista diferentes dos seus em relação ao caso Petrobras.
Não há espaço para vozes divergentes. Não existe pluralidade. A grande mídia tirou de sua agenda opiniões discordantes.
Ajudar o leitor a entender a complexidade de muitas situações é uma das funções mais sagradas da imprensa.
A nossa abdicou disso há muitos anos. Se você mostra uma realidade parcial para o leitor é mais fácil manipulá-lo.
Esta a lógica sinistra da mídia brasileira.
Dora tens bons pontos.
A questão dos vazamentos seletivos é um deles. Em outros países, pondera ela, isso é inaceitável.
No Brasil, isso virou uma rotina – sem que se veja nenhum empenho em Moro em tentar pôr fim a elas.
Os vazamentos seletivos, e este é outro bom ponto de Dora, atrapalham consideravelmente o direito de defesa dos réus.
Em essência, é uma coisa injusta.
Como teria se comportado Moro se os vazamentos não alcançassem os suspeitos de sempre?
Bem, é uma hipótese inverossível: a imprensa não publicaria nada.
A advogada Dora Cavalcanti trouxe alguma luz ao caso Lava Jato com seu depoimento.
Moro e Barbosa, em compensação, produziram sombras.
Com sua agressão a Cardozo, Moro deixou claro, talvez involuntariamente, que está longe de personificar o ideal do juiz equidistante e imparcial.
É uma má notícia para a sociedade. Não à toa, a imprensa deu a ele o mesmo ar heroico que no Mensalão fora de Barbosa.
Os dois – Barbosa antes e Moro hoje – simbolizam o conservadorismo na Justiça nacional.
Barbosa, no Mensalão, fez horrores sem virtualmente nenhum obstáculo.
É um alerta.
Moro não pode ter o mesmo caminho fácil agora que foi concedido no passado a Barbosa.  Seus métodos têm que ser desafiados quando necessário.
Foi o que a advogada Dora Cavalcanti fez.
A despeito do que a Justiça decida sobre o papel da Odebrecht na história, o gesto de sua advogada merece aplausos. De pé.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Por que FHC cruzou os braços?

Paulo Moreira Leite, 06/02/2015
Confesso que ando cada vez mais espantado diante das homenagens a Paulo Francis em função das acusações de corrupção na Petrobras, feitas em 1996, no programa Manhattan Conection.
A convicção generalizada é que Francis estava absolutamente correto em suas denúncias e, ameaçado por um processo de US$ 100 milhões na Justiça de Nova York, acabou sofrendo um enfarto que provocou sua morte. Em função disso, não paramos de ouvir elogios à sua visão como jornalista e à sua argúcia como analista. Mas se Francis falou a verdade, a pergunta real é saber por que nada se fez diante do que ele disse, o que transforma as homenagens de hoje num caso exemplar de silêncio e covardia, a espera de uma investigação responsável e exemplar.
Em 1996, o país tinha um presidente da República eleito, Fernando Henrique Cardoso, empossado há dois anos no Planalto, com apoio da mais fina flor do baronato brasileiro — e até uma fatia potentados internacionais. Tinha um vice, Marco Maciel, que trazia o apoio do mundo conservador do PFL e dos herdeiros da ditadura. Também tinha um ministro das Minas e Energia, Raimundo Mendes de Brito, afilhado de Antônio Carlos Magalhães, vice-Rei da Bahia. Na Polícia Federal, encontrava-se Vicente Chelloti como diretor. O procurador geral da República era Geraldo Brindeiro, que logo faria fama como engavetador.
Nenhuma dessas autoridades veio a público para esclarecer as acusações, fosse para mostrar que Paulo Francis tinha razão, ou para dizer que estava errado. Ninguém correu riscos, não fez perguntas, nem trouxe respostas, nem confrontou Joel Rennó, o presidente da Petrobras que entrou com ação na Justiça contra o jornalista porque se considerou ofendido pelas acusações.
Paulo Francis falou a verdade? Mentiu? Exagerou? Estava de porre? Não sabemos.
A gravação está disponível na internet. Referindo-se a contas secretas na Suíça, Paulo Francis fala com o desembaraço de quem está fazendo delação premiada para o juiz Sergio Moro. Diz que “todos os diretores da Petrobras têm conta lá.” Alguns jornalistas presentes dão sorrisos maliciosos. Nada que lembre a indignação de hoje. Um deles adverte, sem que se possa ver seu rosto: “olha que isso dá processo…” Em outro depoimento, também disponível na internet, Paulo Francis afirma que os diretores da Petrobras são muito queridos na Suíça, onde têm contas de 50 e 60 milhões de dólares.
Fernando Henrique Cardoso não deixou sequer um palpite sobre o caso. Estimulado por José Serra, o presidente mobilizou-se para convencer Joel Rennó para desistir da ação.
E a denúncia?
Se hoje FHC enche o peito para dizer que a Justiça deve fazer aquilo que os militares não podem mais, sem poupar os “mais altos hierarcas”, eufemismo para chegar a Dilma e Lula, não custa perguntar por que se calou quando tinha vários instrumentos do Estado na mão. Se hoje as denúncias são uma forma da oposição tentar atingir Dilma, em 1996 e 1997 era seu governo que poderia se tornar alvo.
Não havia nada para ser investigado, nem para com auxílio da Justiça da Suíça?
Soube-se ontem que, em 1997, o ano em que Paulo Francis morreu, o gerente da Petrobras Pedro Barusco, que, em 2015, se tornaria um dos personagens principais do inquérito da Lava Jato, já tinha um bom cargo na empresa. Naquele ano, passou a receber, além do salário e demais benefícios legais, uma propina mensal entre US$ 20 000 e US$ 50 000 de uma empresa holandesa com interesses específicos na área sob seus cuidados.
Em 1998, pouco depois dos primeiros pagamentos feitos a Barusco, os interesses privados, que no mundo inteiro são a mola principal de iniciativas de corrupção em empresas estatais, ganhavam novo impulso na Petrobrás. Neste caso, FHC teve um papel fundamental.
Num decreto assinado por Fernando Henrique Cardoso, e preparado pela subchefia para Assuntos Jurídicos da Presidência da República, cujo titular era Gilmar Mendes, hoje ministro do STF, aprovou-se a criação de um “procedimento licitatório simplificado da Petrobrás”. O texto do decreto 2.745 pretendia agilizar os investimentos da empresa, o que não está errado, por princípio.
Mas o procedimento “simplificado” está na origem intelectual do hoje célebre “clube das empreiteiras,” denunciado em tom de escândalo.
Haviam se passado apenas dois anos da acusação de Paulo Francis e a alteração ocorrida não foi pequena. Em vez de submeter as obras milionárias da empresa as disputas duras e complicadas de uma licitação pública, autorizou-se a chamada de interessadas pelo sistema de carta-convite, o caminho mais fácil para a seleção de amigos e exclusão de inimigos. É uma situação tão escandalosa que nunca faltaram críticas ao decreto e mesmo ações questionando sua legalidade. O decreto do “clube das empreiteiras” mantém-se em vigor através de liminares. Uma delas, ironicamente, foi concedida pelo próprio Gilmar Mendes, que, já como ministro do STF, julgou o trabalho da subchefia que estava sob sua guarda quando servia ao governo FHC.
Em vários países, as empresas estatais, particularmente de petróleo, vivem uma situação contraditória. De um lado, expressam a vontade política de soberania nacional — que justifica sua existência — diante de reservas de valor estratégico. De outro, são alvo permanente de pressões do setor privado, interessado em transferir ganhos em escala formidável para seus cofres particulares. O resultado é um universo de muita tensão.
A PDVSA venezuelana foi ocupada, historicamente, pela elite econômica do país, aquela que é conhecida por manter um patrimônio maior em Miami do que em Caracas. Depois da posse de Hugo Chávez, cuja vitória criou uma situação política inédita, a alta burocracia da empresa tornou-se aliada da oposição conservadora e chegou a tentar promover um golpe de Estado, impedindo a distribuição de petróleo num país onde o mais refinado produto local é a cerveja e depois o refrigerante.
Na Itália, a estatal ENI servia para enriquecer as campanhas da Democracia Cristã e do Partido Socialista, num tempo em que o Partido Comunista era o demônio da Guerra Fria. Após a Mãos Limpas, ocorreu um desfecho que vale como advertência ao que pode se passar no Brasil, quando se recorda que o modelo de trabalho do juiz Sergio Moro foi a operação italiana: a ENI foi privatizada — e não há dúvida de que os escândalos e o trabalho de jornais e revistas ajudaram a adoçar a ideia.
Num país onde a Petrobras sempre foi alvo de ataque feroz por parte do empresariado conservador e seus aliados externos, após a democratização não houve um governo que não tivesse enfrentado uma investigação em torno de desvios e irregularidades. (É certo como 2+2=4 que havia esquemas sob a ditadura, mas nunca vieram a público).
Em 1989, no governo de José Sarney, a descoberta de um milionário esquema de desvios que levou ao afastamento do presidente da BR Distribuidora e seu principal auxiliar. Em 1992, uma tentativa de intervenção de PC Farias na direção da empresa levou à saída do advogado Luiz Octávio da Motta Veiga, que preferiu ir embora em vez de atender aos pedidos do tesoureiro de Fernando Collor.
A ideia de que os esquemas de corrupção na Petrobras nasceram a partir de 2003, com a chegada de Luiz Inácio Lula da Silva no Planalto, é falsa mas tem uma utilidade política óbvia: ajuda a transformar uma operação policial num instrumento de destruição política, cujo alvo final é o governo Dilma Rousseff e o Partido dos Trabalhadores. Também permite acobertar responsabilidades passadas, o que é sempre conveniente em campanhas de moralismo seletivo. Mas o preço é apagar a memória histórica, o que impede qualquer debate sensato sobre o caso.
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domingo, 8 de fevereiro de 2015

Atalhos para o poder

Lula da Silva, no aniversário de 35 anos do PT

Nossos adversários não podem dizer qual é o seu projeto; porque é antinacional, contrário ao desenvolvimento, é um projeto que exclui milhões de pessoas do processo econômico e social.

Eles só podem atacar o PT e o nosso governo com as armas da irracionalidade e do ódio.    

Não têm, nunca tiveram, autoridade para falar em nome da ética, mas é nesse campo que tentam desesperadamente nos atingir. Eles, que jamais investigaram a fundo uma denúncia de corrupção.  Eles, que varriam escândalos para debaixo do tapete. Eles, que alienaram o patrimônio da Nação “no limite da irresponsabilidade”.

Foi o governo do PT que acabou com a impunidade que eles cultivaram por tanto tempo.  Nenhum outro governo fez mais para combater a corrupção nesse País, conforme a presidenta Dilma deixou claro na campanha eleitoral.

Mas vejam o que está ocorrendo em torno da Petrobrás. Desde o início da campanha eleitoral, nossos adversários manipulam uma investigação institucional, com o objetivo de criminalizar o PT.

Esta investigação, como todas as outras iniciadas em nosso governo, deve ser levada até o fim, esclarecendo os fatos, apontando os responsáveis e levando seja quem fora a julgamento. É isso que a sociedade espera e é isso que vem ocorrendo nos governos do PT – ao contrário do que ocorria no tempo deles.

Mas estamos assistindo a repetição de um filme com final conhecido. Pessoas são acusadas, por meio da imprensa, com base em vazamentos seletivos de uma investigação à qual somente alguns têm acesso. Não há contraditório, não há direito de defesa. E quando o caso chegar às  instâncias finais da Justiça, o pré-julgamento já foi feito pela imprensa, os condenados já foram escolhidos e bastará apenas executar a sentença.

Nossos adversários não se incomodam que essa campanha já tenha causado enormes prejuízos à Petrobrás e ao País. O que eles querem é paralisar o governo e desgastar o PT, a qualquer custo.    

Mais uma vez eles falharam na tentativa de voltar ao poder pelo voto. Ao que tudo indica, não querem mais esperar outra derrota: partem claramente para a desestabilização, investem na crise, apostam no caos. Na falta de votos, buscam atalhos para o poder, manipulando a opinião pública e constrangendo as instituições.

Eles vão prestar contas à História sobre a maneira antidemocrática como vêm agindo.

Parece que o PT resolveu não apanhar calado

Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo 07/02/15

O Petrolão é o novo Mensalão.
Tudo é parecido, a começar pelo comportamento da imprensa.
Mas deu já para perceber que uma coisa é completamente diferente: a atitude do PT.
No Mensalão, o PT ficou acuado. Agora, como que cansado de apanhar calado, resolveu partir para o contra-ataque.
É dentro dessa nova estratégia que devem ser entendidas as palavras de Lula na festa de 35 anos do PT.
Lula falou em pretensões golpistas da oposição, um “atalho” para o poder. E disse que a imprensa está ocupada primordialmente em “incriminar” o PT. Destacou, ainda, o caráter “político”, muito mais que jurídico, da Operação Lava Jato.
Você pode dizer, com razão: esperava-se que o PT renovasse a pantanosa política brasileira, e isso lamentavelmente não ocorreu.
O PT se juntou ao “sistema”, em nome da governabilidade, em vez de mudá-lo, e só a história poderá dizer se foi um gesto brilhante de sobrevivência na selva ou um ato de completa pusilanimidade.
Mas há na argumentação petista, nestes tempos, um ponto incontestável: há um rigor em relação a tudo que diga respeito ao PT que absolutamente não se vê para os demais partidos.
Isso tem pelo menos dois efeitos.
Primeiro, desmoraliza, deslegitima as acusações contra o PT. Mesmo quando elas têm fundamento, a injustiça de tratamento retira a força dos ataques.
Segundo, você acaba dando ao agredido, paradoxalmente, uma aura de perseguido.
As regras têm que valer para todos, para que a luta pela ética não seja farisaica.
Quer dizer o seguinte, trazidas as coisas para o cotidiano.
Enquanto FHC pontificar sobre a moralidade, ele que se elegeu depois da compra despudorada de votos para a emenda da reeleição, ninguém vai levar a sério a pregação anticorrupção veiculada pelas grandes empresas de mídia.
Elas mesmas: enquanto a Globo – flagrada num delito de sonegação milionária – se atrever a dar lições de moral, a hipocrisia estará triunfando.
Ainda em relação à mídia. Enquanto um jornal como a Folha fugir covardemente da obrigação de cobrir o crime fiscal da Globo, ele estará moralmente impedido de falar de esticar o dedo acusatoriamente para os outros.
Você não pode exigir decência quando age indecentemente. Um dos exemplos mais notáveis disso é Aécio.
Ele não explicou o aeroporto de Cláudio. Não se desculpou por ter colocado dinheiro público nas rádios da família, pelas mãos da irmã, como governador de Minas. Não esclareceu como podia falar tanto em meritocracia quando dava grandes empregos a tanta gente de seu círculo íntimo.
E mesmo assim, com todo esse passivo moral, ousa posar de Catão. E só tagarela porque os amigos lhe estendem o microfone continuamente sem que uma única cobrança lhe seja feita.
Poucas coisas demonstram tanto a miséria do jornalismo nacional como nenhuma empresa de mídia haver coberto o caso do helicóptero de um amigo de Aécio flagrado com 450 quilos de pasta de cocaína.
A omissão, aí, só se entende pelo empenho mórbido em poupar o amigo Aécio.
A mesma especulação já foi feita milhares de vezes, mas ei-la novamente: e se o helicóptero fosse de um amigo de Lula?
É por esse conjunto obsceno de coisas que mesmo pessoas sem vínculo com o PT – eu, se querem um caso – não se comovem em nada com as acusações que jorram dos suspeitos de sempre.
Existe apenas uma coisa pior do que não combater a corrupção. É você fingir que está combatendo-a, como em 1954 e 1964 – com finalidades inconfessáveis.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Os delatores, os delatados e a nova estética nazisoviética da imprensa brasileira

 06/02/2015


A CF/88 garante a todos os cidadãos a presunção de inocência. Em razão disto, uma pessoa delatada não pode ser automaticamente considerada culpada pela imprensa. A reputação e a imagem dela devem ser preservadas pelos jornalistas, caso contrário o dano moral pode e deve ser indenizado a mando do Poder Judiciário e a pedido do ofendido. O mesmo se aplica ao partido político e à empresa delatada, que, aliás, tem personalidade jurídica distinta da dos seus membros.
Delatores não são heróis da ética e da moralidade administrativa. São pessoas investigadas por que, em razão dos indícios de provas que existem no Inquérito Policial, a autoridade policial considerou plausível sua participação  no crime ou crimes investigados. A delação premiada não é uma excludente de anti-juricidade da conduta criminosa O delator seguirá respondendo pelo crime que cometeu, mas em razão de ter colaborado com a Justiça poderá ser agraciado com a redução da pena que lhe será imposta.
A delação não é suficiente para condenar quem quer que seja. No sistema processual penal brasileiro, cujos principais princípios constam do art. 5० da CF/88, cabe ao MP provar no processo, de maneira inequívoca, três coisas: a autoria do crime, a culpa do acusado e a materialidade do delito. Se não ficar provada a materialidade do delito, a atribuição de autoria e culpa feitas pelo delator não pode acarretar a condenação do réu. Não há crime sem Lei que previamente o defina, não é crime ter sido delatado e a CF/88 garante a absolvição por presunção de inocência.
Nazistas e soviéticos não seguiam os critérios processuais penais garantidos pela CF/88. Para os primeiros bastava pertencer a uma raça para ser automaticamente condenado, primeiro à segregação social e depois ao extermínio durante a Solução Final. Para os segundos, os suspeitos que fossem acusados de traição ao Estado soviético, ao partido único ou à fé comunista deveriam provar sua inocência e se não o fizessem seriam automaticamente condenados ao Gulag ou à morte.
A imprensa brasileira deveria seguir os princípios civilizatórios prescritos na CF/88, mas por razões partidárias está se deixando influenciar por princípios nazistas e soviéticos. Os delatores não são tratados como suspeitos de terem cometidos crimes financeiros e sim como heróis que ajudarão a derrubar um governo considerado ilegítimo.
Dilma Rousseff foi eleita pela maioria dos brasileiros e empossada pelo TSE na forma da CF/88. Nada disto parece comover os “barões da mídia”. A ilegitimidade do mandato da presidenta não é apenas presumida pela imprensa, é considerada um fato inquestionável que deve acarretar consequencias. Os arquitetos do golpe de estado ou da paralisia governamental deixaram de praticar jornalismo para se colocar acima do TSE e fora dos limites da CF/88. Tudo fazem para revogar ou destruir a soberania popular que investiu Dilma Roussef de poder legítimo.
A adesão da imprensa aos princípios jurídicos nazistas e soviéticos é, portanto, evidente. E explica porque os delatados não são mais tratados como suspeitos e sim como criminosos contumazes. A existência deles é indigna das garantias constitucionais atribuídas aos cidadãos de bem, competindo à imprensa distinguir uns de outros. Neste momento, apesar do que consta da CF/88, os editores de jornais, revistas e telejornais se comportam como se tivessem um missão especial: dizer em última e única instância quem são os criminosos e quem deverá ser inocentado.  
A degradação do jornalismo brasileiro é generalizada. Quem leu jornal ou revista ou viu telejornal nesta semana percebeu que os jornalistas querem convencer o respeitável públicode que os petistas não devem ter direito à presunção de inocência. Neste momento, qualquer denuncia feita contra o PT por suspeitos investigados pela Polícia Federal e pelo MPF deve ser e é, sem dúvida alguma, verdadeira. Ninguém precisa provar que o partido de Dilma Rousseff recebeu 200 milhões de reais de propina. Nenhum leitor ou telespectador necessita saber se o dinheiro foi realmente recebido, onde o mesmo está ou como, onde e quando foi movimentado. A delação faz presumir o crime e o acusado é culpado até que prove que não recebeu o dinheiro.
FHC e Gilmar Mendes criaram as brechas jurídicas que permitiram à corrupção se instalar e se espalhar dentro da Petrobrás. Este fato importante é tratado como um detalhe irrelevante. Ao contrário dos petistas acusados por suspeitos, ambos são presumivelmente inocentes e não devem ser jornalisticamente condenados. Dilma Rousseff possibilitou a facilitou a investigação dos crimes na petrolífera, mas está sendo pessoalmente responsabilizada pelos atos atribuídos a terceiros por delatores suspeitos de terem, eles mesmos, cometido os crimes que motivam a ação do MPF. Foi neste contexto que FHC, o founding father da corrupção na Petrobrás, brandiu um Parecer em favor do Impedimento de Dilma Rousseff rapidamente endossado pela imprensa.
A Lei de Talião prescrevia olho por olho, dente por dente. A talionica imprensa brasileira aplica uma moderna versão da mesma furem todos os olhos para podermos quebrar os dentes dos petistas. Se esta canalha derrubar Dilma Roussef e chegar ao poder o simples fato de ser petista ou suspeito de petismo será garantia certa de prisão. Livres dos freios da CF/88 e imbuídos dos princípios jurídicos nazistas e soviéticos que tem aplicado, os editores de jornais, revistas e telejornais que instrumentalizam o golpe de estado poderão enfim defender o que desejam: a prisão imediata de todos os petistas e suspeitos de petismo em Gulags para extermínio lento ou imediato. O que os judeus tem a dizer deste novo holocausto?

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Mídia continua o massacre: o alvo é depor Dilma e destruir a esquerda

Do portal  vermelho 05/02/2015


A mídia hegemônica continua com seu festival de absurdos, e não se enganem: o objetivo não é apenas destruir o PT, mas depor Dilma e varrer a esquerda do mapa.


Baseados em um depoimento dado em novembro de 2013, onde o depoente, em busca da famosa “delação premiada”, estima que o PT tenha recebido uma determinada quantia, estimativa que não conta com nenhuma prova ou sequer indício, os sites da mídia hegemônica fazem a festa nesta quinta-feira (5), festa que será repetida na manhã de sexta-feira (6) pelas manchetes dos jornalões. A cruzada imoral levada a cabo por parte do MPF e do judiciário a serviço do sistema oposicionista chegou ao ponto de, para fornecer um espetáculo à mídia hegemônica, conduzir de forma coercitiva o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, para prestar depoimento. A coerção não se justifica de nenhuma forma. Vacarri não estava foragido e não havia se negado a cumprir qualquer intimação. Portanto, o procedimento normal seria intimá-lo para prestar o depoimento, mas isso não serviria ao intento do circo que foi armado em nome do golpe.

Escândalo da Operação Golpe a Jato: delações como fruto aberto de barganha

O jornal Valor Econômico, desta quinta-feira (5), relata, sem nenhum tom crítico, como são escandalosamente barganhadas as “delações”. A matéria com o título “Novas delações premiadas começam a ser negociadas”, revela esta trama verdadeiramente kafkiana.
Relata o Valor: “Os acusadores insistiam para que os dirigentes da Camargo Corrêa assumissem a prática de corrupção com percentual de 5% sobre os contratos celebrados pela Petrobras com a empreiteira, no período de 2004 a 2014. Mas os executivos estavam dispostos a confessar a culpa até o máximo de 2% dos contratos. Discordavam também do período de tempo em que as irregularidades aconteceram (...) As negociações evoluíram quando as duas partes cederam: os empreiteiros se dispuseram a confessar pagamento de propinas de até 3% nos contratos firmados com a estatal. O MPF teria concordado”.

Escândalo da Operação Golpe a Jato: delações como fruto aberto de barganha II

Ou seja, os “delatores” dizem que a propina era de 2%, o MPF quer que eles digam que foi 5%, mas aceita 3%! Nada de investigação, nada de busca pela verdade, apenas uma reles barganha com fim político. Um fim político tão claro que o MPF exige que o período abarcado seja de 2004 até 2014, ou seja, se alguém quiser "delatar" o período FHC já está de antemão avisado que o MPF não o ouvirá, a mídia não divulgará e o prestimoso juiz Sérgio Mora não "premiará". É capaz até de aumentar a pena. Aliás, o PSDB, citado nos primeiros depoimentos “vazados”, simplesmente sumiu da operação Lava Jato, que pode ter tranquilamente seu nome mudado para operação Golpe a Jato.

Folha defende fascistas ucranianos

O jornal Folha de S. Paulo defender os fascistas ucranianos era de se esperar. O que espanta são os “argumentos”. Na edição desta quinta-feira (5) a Folha, em editorial intitulado “No quintal do Kremlin”, diz que “os fatos falam contra Moscou”. Quais seriam estes fatos? A Folha responde: “Desde o começo do ano centenas de equipamentos militares (enviados pelos russos) cruzaram a fronteira entre a Rússia e a Ucrânia”. E quem é a fonte que forneceu estes “fatos”? O próprio jornal revela: a OTAN. Ou seja, para fazer uma análise "isenta" a Folha se apoia e toma como verdade a informação vinda de um organismo com interesses vitais na vitória dos fascistas ucranianos. Mas não para aí o malabarismo daFolha. O jornal saudou como tendo sido uma vitória o patético referendo promovido pela Grã Bretanha em 2013, que “aprovou” a usurpação da ilha argentina Malvinas através do voto de 1.500 colonos britânicos (leia artigo sobre o tema publicado na época pelo Vermelho). Mas o plebiscito na Criméia, que aprovou a união com a Rússia, e contou com 96,8% dos votos (1,2 milhão de pessoas), sendo que o comparecimento às urnas beirou os 90% dos eleitores inscritos, a Folha trata como “controverso”. Isso é que se chama jornalismo “ideológico”.