sábado, 23 de agosto de 2014

Publicitário William Bonner, nosso Lou Dobbs, mostra que é bom de marketing

por Luiz Carlos Azenha  em 21/08/2014 no sítio Viomundo:
Por um tempo Carlos Nascimento alimentou a ideia de que se tornaria âncora do Jornal Nacional. Na minha primeira passagem pela emissora, nos anos 80, acompanhei de perto a trajetória dele. Boa presença no vídeo, boa voz e, acima de tudo, experiência na rua. É conversando com as pessoas, no dia-a-dia, que nascem os bons entrevistadores. O mesmo aconteceu com Ana Paula Padrão, com quem só tive contato muito mais tarde, na TV Record. Foi correspondente, interagiu com entrevistados mundo afora.
Do casal 20 da Globo se dizia o seguinte, na minha segunda passagem pela Globo, no Rio de Janeiro, a partir de 1999: Fátima Bernardes tinha chacoalhado nas viaturas, amassado barro e subido morro. William Bonner, não. Tive pouco contato com ele. Ao analisar as reportagens que seriam exibidas no Jornal Nacional, aprovadas pessoalmente por ele, Bonner era preciosista, focava nos detalhes.
Havia um toque de masoquismo naquele ritual de espera diário na redação: o imperador diria sim ou não ao seu trabalho!
Escapava-lhe a contextualização. O foco no subsidiário — na gramática, por exemplo — permitia que não se discutisse o essencial.
Talvez seja um mecanismo de defesa. Na Globo o profissional tem autonomia até a página 2. A estrutura é altamente hierarquizada. Até as entradas ao vivo são aprovadas antecipadamente, ou pelo menos eram quando eu estava lá. A margem de manobra dos repórteres é reduzidíssima.
Só ascendem a cargos de chefia — o de Bonner é um deles — os que são de extrema confiança do patrão. Por comparação, em outras emissoras nas quais trabalhei as reclamações sempre foram posteriores: Manchete, SBT e Record. “Ah, o Azenha não deveria ter dito aquilo que disse”, um chefe eventualmente observa. Mas, no frigir dos ovos, quem manda mesmo é o dono. É o patrão — ou seus prepostos.
William Bonner tem a mesma alma matter que eu: a Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Formou-se em Publicidade e Propaganda. Outros repórteres da Globo, como Alberto Gaspar e Ernesto Paglia, foram meus contemporâneos na faculdade de Jornalismo.
A ECA era uma boa escola, de professores e estudantes questionadores, que foi se voltando aos poucos para servir “ao mercado”. Acho uma perda. Escrever bem ou aparecer direito na TV a gente pode aprender aos poucos, nas ruas, ganhando experiência. Mas a formação em História, Filosofia, Lógica e Ciências Sociais, dentre outras disciplinas, essa não tem preço. É a alma do Jornalismo. É o espírito crítico.
No caso de Bonner, no entanto, a formação em Publicidade e Propaganda parece ter muita solidez.
Às críticas que recebeu nas últimas horas ele respondeu com uma mensagem de deixar qualquer marqueteiro encantado: no twitter, em uma só frase, juntou robôs (deve ter se inspirado na famosa reportagem de Veja, que ao ser pega em conluio jornalístico com o bicheiro Carlinhos Cachoeira atacou ‘aranhas, robôs e comunistas’), corruptos insatisfeitos e blogueiros sujos (adotando, aqui, designação formulada por um dos grandes amigos dos patrões da Globo, o candidato a senador José Serra).
Como bom marqueteiro, Bonner desqualificou as críticas que recebeu ligando-as a gente previamente criminalizada pela mídia. Não debateu o mérito.
Abandonou o preciosismo que é sua marca, de forma oportunista.
Um preciosismo do qual ele se vale muitas vezes para julgar o trabalho de colegas.
O preciosismo que ele tanto ama e que, nas últimas horas, foi expresso de forma estatística na rede:











Ou, de Ricardo Amaral, no Conversa Afiada:
Dos 16 minutos cronometrados [da entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo], Dilma falou 10 minutos e meio; [o apresentador William] Bonner, 4 e meio, e Patrícia [Poeta, a apresentadora] quase 1 minuto. Dá 65% para ela e 35% para eles. Dilma pronunciou 1.383 palavras, contra 980 da dupla (766 só do Bonner), o que dá 60% x 40%. Isso é escore de debate, não de entrevista. A dupla encaixou 26 acusações ao governo e ao PT; algumas, com ponto de exclamação. Nos quatro blocos temáticos (corrupção, mensalão, saúde e economia) Bonner lançou no ar 13 pontos de interrogação, e Patrícia, dois. A presidenta foi interrompida 19 vezes. Tomou dedo na cara de Bonner e de Patrícia, que reclamou de uma resposta com um soquinho na mesa. Isso não é comportamento de jornalista. Na entrevista com Aécio Neves – que muitos acharam “dura”, embora tenha sido apenas previsível – a dupla fez quatro interrupções e cinco reiterações de perguntas.
Ou, da Márcia Cunha, no Facebook, reproduzindo a Mídia Ninja:
O tom inquisidor de William Bonner na entrevista com Dilma no Jornal Nacional de hoje mostrou, em alguns minutos, como a imprensa brasileira atua há séculos para criar e manipular suas verdades. Na primeira pergunta, com mais de um minuto de duração, o âncora usou sete vezes a frase “Escandalo de Corrupção”. É pela repetição, aquela mesma usada pelo publicitário do nazismo Joseph Goebbels, que se funda a percepção da realidade.
Quando eu, Azenha, era um repórter já maduro na TV, tive o prazer de conviver, na excelente redação do Globo Repórter — acreditem, a Globo tem excelentes profissionais, de altíssimo nível, que só não nomino para não colocá-los sob risco de demissão — com Ana Helena Gomes.
Uma editora de primeira categoria, uma documentarista sensível, ao mesmo tempo doce e ácida, como acredito que devam ser os jornalistas.
Numa viagem ao Nordeste, para gravar um Globo Repórter sobre poligamia, ela me chamou de lado e observou, usando mais ou menos as seguintes palavras: “Azenha, você está muito afoito. Está apertando demais o entrevistado. Querendo arrancar dele tudo na primeira pergunta. Colocado na defensiva, ele não vai revelar nada. Tem de ‘tourear’ o entrevistado. Fazer com que ele se sinta seguro ao seu lado. Uma boa entrevista é quando você envolve o entrevistado de tal forma que ele acabe se entregando”.
Sábias palavras. Obrigado, Ana Helena, pela sabedoria!
Nunca mais fui o mesmo. Obviamente, levei anos para aprender as lições básicas da entrevista, aprendendo cotidianamente com observações de colegas como Jotair Assad, Alexandre Alencar e Vanda Viveiros de Castro. Tentei absorver todas as críticas, mas nunca cheguei lá.
Admiro quem sabe fazê-lo quase que naturalmente, por um dom de nascença: os ex-globais Carlos Dornelles e Arnaldo Duran, por exemplo, ou o Gérson de Souza e o Caco Barcellos.
Os quatro são de tal forma envolventes que, depois de 15 minutos de conversa, você é capaz de comprar o carro usado deles por uma fortuna.
Nós, telejornalistas, somos tratados como repórteres de segunda classe pelo pessoal que trabalha em jornal e revista, que não precisa se preocupar com a captação de imagens e tem a garantia de anonimato para coletar informações. Nosso desafio, o dos telejornalistas, é conseguir arrancar alguma coisa do entrevistado com a presença intimidadora de uma grande equipe, de luzes e microfones.
É tarefa árdua, delicada, ainda mais quando exige que o entrevistador não apareça mais que o entrevistado. Pelo menos eu não confundo jornalismo agressivo com jornalismo agressor.
Barbara Walters, a grande entrevistadora da TV dos Estados Unidos, nunca, jamais, perdeu a linha. Era dura com uma leveza admirável. Tinha o dom.
Segundo o leitor Felipe Tadeu Barata de Macedo, a Globo aparece como patrocinadora do Viomundo na Europa. Vamos bloquear
Porém, em tempos mais recentes, com o desafio da internet, nosso meio mudou.
As emissoras querem telejornalistas que sejam, eles mesmos, personagens. Que sejam mais importantes que a própria notícia.
Nos Estados Unidos, isso não é novidade. Lou Dobbs, da CNN norte-americana, foi um dos primeiros âncoras a abraçar uma causa. Quando eu morava em Nova York, ouvia as diatribes diárias dele contra “the illegal alliens”, os alienígenas ilegais. Era como se todos os problemas sociais dos Estados Unidos fossem causados pela entrada de imigrantes mexicanos ou dominicanos. Justamente no momento em que o presidente direitista Ronald Reagan, este sim, destruia sindicatos, salários e direitos sociais. Com apoio da CNN.
Os imigrantes eram, portanto, alvo fácil, a “escória”, da mesma forma que hoje a direita brasileira elegeu “os corruptos” como nosso grande mal, desde que não sejam corruptos privados, como os irmãos Marinho, multados em 600 milhões de reais pela sonegação de impostos na compra dos direitos de TV nas Copas de 2002 e 2006.
Para assumir seu papel de herói da causa, nos Estados Unidos, Dobbs mascarava a realidade. Não contava toda a história.
Assim como Bonner não fala na multa da Globo, Dobbs escondia o contexto:
1. Com o acordo comercial fechado com os Estados Unidos, o NAFTA, o milho norte-americano e outros produtos agrícolas começaram a invadir o mercado mexicano, destruindo a agricultura local e acelerando a imigração;
2. Os imigrantes ilegais cumpriam, nos Estados Unidos, o papel de calibrar para baixo o salário dos trabalhadores em geral, especialmente os do campo.
Dobbs cumpriu direitinho o papel que o dono da CNN esperava dele, o de atrair telespectadores de extrema-direita, preocupados com o fato de que os brancos logo deixariam de ser maioria nos Estados Unidos, ameaçados pela demografia.
No Brasil, o compromisso de Bonner é o de “render” credibilidade ao jornalismo de seus patrões. É uma espécie de ‘caçador de marajás’ da própria casa.
Como escrevi anteriormente, Bonner faz isso para mascarar a verdade factual de que a Globo apoiou a ditadura militar, interferiu e interfere no processo eleitoral, atribui a si própria o papel de ‘árbitro’ da política brasileira — apesar de ter conspirado contra a democracia — e exerce um monopólio midiático praticamente desconhecido em qualquer parte do mundo.
Gente do Executivo, do Judiciário e do Legislativo brasileiros já se deu conta de que não poderá viver eternamente sob a ameaça do assassinato de caráter jornalístico praticado pelos Marinho.
Bonner é um biombo dos patrões para evitar que se faça com eles o que uma das mais sólidas democracias liberais do mundo, a do Reino Unido, fez com o magnata Rupert Murdoch. Com apoio da rainha “chavista” Elizabeth, foram colocados limites claros à atuação da mídia eletrônica, com direito dado ao telespectador de abrir investigações através de formulários na internet e previsão de penalidades inclusive para conteúdo desequilibrado.
No plano profissional, se estamos tratando exclusivamente de técnicas de entrevista, Bonner não deveria se preocupar com o fato de que se formou em Publicidade e Propaganda, não em Jornalismo na ECA.
Não devemos ser preconceituosos quanto a diplomas.
Talvez fosse o caso de Bonner revisitar os arquivos da própria Globo, para consultar todas aquelas entrevistas que fez como repórter de rua. A partir disso, de forma humilde, o imperador talvez reconhecesse que é possível melhorar. Ou será que ele nunca fez uma única e mísera reportagem de rua?

Dilma x FHC: pequena comparação

Pequena comparação do Brasil em 2002 e 2012:

DÍVIDA DO SETOR PÚBLICO (% PIB)                    2002: 60,4    2012: 35,2.
RESERVAS INTERNACIONAIS (BILHÕES US$):     2002:38,8     2012: 373,2
DEFICIT (NOMINAL) DAS CONTAS PÚBLICAS (% PIB)   2002: 4,5    2012: 2,5
TAXA SELIC MÉDIA (% AO ANO)                           2002: 18,9    2012: 8,5
TAXA JUROS SELIC (DADOS IPEA)                 31/12/2002: 24,9%  JULHO/2014: 11 %
TAXA DE INVESTIMENTO / PIB (%)                        2002: 16,1    2012: 18,1
TAXA DE DESEMPREGO                                      2002: 10,5 %  2012: 6,0%
INFLAÇÃO                                                            2002: 12.53 % 2012: 5,91 %
INVESTIMENTO EM HABITAÇÃO                  1994-2002: 7 BILHÕES; 2003-2012: 63 BILHÕES
PROG. NACIONAL AGRICULTURA FAMILIAR         2002: 2,4 BI   2012: 16 BI
SAFRA DE GRÃOS (TONELADAS/ANO)                2002: 97 MI    2012: 150 MI  
DESNUTRIÇÃO INFANTIL                                      2002: 12,5 %  2012: 4,8%
NÚMERO DE MUNICÍPIOS ATENDIDOS SAMU      2002: ZERO   2012: 1450
GASTOS PÚBLICOS COM SAÚDE (R$ BI)             2002: 28        2014: 106
GASTOS PÚBLICOS COM EDUCAÇÃO (R$ BI)     2002: 17         2014:  94
ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS                         2002: 3,5 MI   2012: 7,0 MI
CAPACIDADE INSTALADA DE GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA, EM MW 2002 80.315  2012: 120.973 (DADOS IPEA)
PETROBRÁS VALOR DE MERCADO                    2002: R$ 30 BI  2012: R$ 260 BI
PETROBRÁS LUCRO LÍQUIDO                             2002: R$ 8,1 BI  2012: R$ 21,1 BI
REAJUSTE DO SALÁRIO MÍNIMO 2003- 2014: 262 % CONTRA 80% INFLAÇÃO
RISCO BRASIL (ÍNDICE EMBI, IPEA)                    2002: 1446    2013: 224
PIB: 2002 - R$ 1,3 TRILHÕES (13 o. ECONOMIA);   2013 - R$ 4,4 TRILHÕES (6 o. ECONOMIA).

AINDA NO PERÍODO 2003- 2013:

15 MILHÕES DE LARES NO "LUZ PARA TODOS"
5,8 MILHÕES DE BENEFICIADOS NO "SAÚDE NÃO TEM PREÇO"
20,2 MILHÕES DE EMPREGOS COM CARTEIRA ASSINADA
3,6 MILHÕES DE EMPREENDEDORES INDIVIDUAIS COM DIREITOS TRABALHISTAS
51 MILHÕES DE ATENDIDOS EM 2013-2014 NO "MAIS MÉDICOS"
3 MILHÕES NO "MINHA CASA, MINHA VIDA"
50 MILHÕES NO "BOLSA FAMÍLIA"
30 MIL ESTABELECIMENTOS "AQUI TEM FARMÁCIA POUPULAR" EM MAIS DE 4.000 CIDADES




terça-feira, 5 de agosto de 2014

O gol de placa do Itamaraty na questão de Israel

LEN, 05/08/14
As reações do porta-voz do ministério das relações exteriores de Israel, Yigar Palmor e de alguns pit-bulls da imprensa sionista sobre as ações tomadas pela diplomacia brasileira frente à ofensiva desproporcional e desumana Israelense na faixa de Gaza – nota oficial dura e convocação do embaixador – dão bem o tamanho do impacto dessas ações na diplomacia daquele país.
Não consigo imaginar qualquer reação vinda de Israel contra um país realmente insignificante diplomaticamente, e a tentativa de demonstrar desdém revela um esquizofrênico esforço para não transparecer o quanto sentiram o punch diplomático, vindo justamente de um dos fundadores do Estado de Israel em 1948, em terras palestinas.
A nota do Itamaraty havia sido dura e cirúrgica nas palavras. A convocação do embaixador mostrou que não se tratava de mero formalismo como as declarações de Washington que não convencem ninguém. A ação Brasileira se deu em um momento que o mundo estava perplexo e os países se entreolhavam para ver quem iria ser o primeiro a enfrentar a fera.
Os neocons da mídia tupiniquim, sempre alinhados com Washington e Tel Aviv, correram para tentar ridicularizar a ação diplomática Brasileira, acusando a missão de “agir ideologicamente”, sem esperar para contabilizar os efeitos posteriores no tabuleiro de xadrez da política internacional.
Na contramão dos nossos queridos vira-latas, a OLP reconheceu de imediato o protagonismo brasileiro e exaltou a dignidade e coerência do país, intransigente na defesa de soluções negociadas e pacíficas. Países sucederam o Brasil, depois vieram os grandes do G7, e as palavras não eram mais tênues que as brasileiras.
O Itamaraty continuou acertando ao não se envolver em um bate-boca com tel-aviv via imprensa, deixando de responder as bravatas e se empenhando através de novas ações diplomáticas silenciosas para que outros países seguissem o seu caminho.
Não há o que se comemorar com tantas crianças pagando o pato por uma cegueira odiosa e insana, no entanto, haja o que houver e o Itamaraty sai mais forte do que entrou. São com atitudes firmes e na medida certa como essa que se ganha confiança no cenário internacional e relevância no xadrez político mundial.
Relevância internacional não se consegue com demonstrações de força, mas liderando outros países na prática como o Brasil mostrou ser capaz de fazer, e nesse quesito Israel é um anão diplomático, pois cada vez mais se isola internacionalmente.
No mesmo caminho vão os nossos vira-latas que cada vez escrevem apenas para um pequeno gueto de direitopatas que se prestam a tentar justificar a morte dessas crianças, pois mesmo que a opinião pública brasileira seja de fato mais conservadora que progressista, no conflito de Gaza a rejeição a ação de Israel é facilmente notada nas redes sociais.
Ninguém questiona o direito do povo de Israel de viver em paz, o que se questiona são os métodos usados pelas forças armadas israelenses para conseguir isso, se questiona jogar bombas em áreas civis, inclusive colégios e hospitais, alguns humanitários da ONU, se questiona a ampliação de colônias em território palestino em tempos de paz provocando os grupos radicais, se questiona um bloqueio desumano que tem a única finalidade em sufocar economicamente um povo já tão sofrido.
O Brasileiro torce pela paz, o governo Israelense torce para que ela nunca venha. O Israelense e o Israelita não precisam se alinhar a esse governo que comete crimes de guerra, tem o dever de cobrar e eleger governos que busquem colocar um fim no conflito para que os dois lados possam viver em paz. Infelizmente os israelitas da nossa mídia sempre estão equivocadamente alinhados com Tel-aviv.

domingo, 3 de agosto de 2014

Sobre o direito de Israel a se defender

Por Breno Altman  03/08/2014
O governo de Netanyahu alega que os ataques a Gaza são legítima defesa. Como se a situação tivesse começado com lançamento de mísseis pelo Hamas.

O argumento, para início de conversa, tem um déficit original: ao menos desde 1967, quando tomou a força territórios árabes, Israel é o Estado agressor. Os palestinos, desde então, são os que possuem direito natural à auto-defesa e à rebelião, como está escrito na Carta das Nações Unidas sobre povos submetidos a situação colonial.

Segundo, os mísseis do Hamas foram uma resposta, independente do juízo que se faça dela, à maneira como o governo de Israel conduziu o caso dos três jovens israelenses cruelmente assassinados. Ao contrário de considerar um caso policial, que pressuporia investigação e julgamento conduzido pela Autoridade Palestina, dentro de um prazo razoável, Netanyahu tratou como um tema militar, lançou uma onda de prisão em massa contra palestinos e denunciou a responsabilidade do Hamas sem que houvesse provas conclusivas a esse respeito. A organização islâmica contestou com seus disparos a esmo os gritos de guerra e a repressão generalizada conduzida pelo governo de Israel.

Terceiro, não se pode considerar "direito de defesa" um massacre como o que está em curso, com mais de 1,5 mil palestinos mortos, a maioria civil, incluindo mulheres e quase trezentas crianças, além de ataques a edifícios sob controle das Nações Unidas.

Estes três argumentos são suficientes para desmascarar o suposto caráter defensivo da escalada em Gaza. O nome do que faz o governo de Israel é crime de guerra.

Veja inventa "quebra de sigilo" de perguntas que são públicas

Vamos supor que, por um milagre, a oposição da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, conseguisse vencer o rolo compressor da bancada do Aécio em Minas, e implantar a CPI do Aécioporto.

Qualquer deputado que participasse da CPI, seja da situação ou da oposição, poderia ir à público e dizer quais perguntas iria fazer a Aécio e gostaria de obter respostas.

Mesmo sem CPI, os deputados da oposição estadual aos tucanos de Minas e o povo nas redes sociais já fazem essas perguntas publicamente, que Aécio Neves (PSDB) se recusa a responder. Por exemplo: 

Se Aécio defende a privatização, porque estatizou um aeroporto privado na fazenda do tio?

Onde está o estudo de viabilidade, de custo benefício, para justificar a construção dos aeroportos de Cláudio e Montezuma com dinheiro público?

Tirando o fato de Aécio ter uma fazenda a 6 km de distância, por que investir no aeroporto de Claúdio se o de Divinópolis, cidade pólo regional, fica ao lado e já atende a região?

Se havia demanda na cidade como inventa Aécio, essa demanda era de quem, além da própria família? E por que a demanda sumiu, a ponto do aeroporto ficar fechado sem ninguém na cidade reclamar?

Por que a licitação do aeroporto não foi anulada, se a diferença de preços entre as propostas das empreiteiras ficou apenas 0,6% de diferença, e muito próximo ao preço máximo?

O helicóptero dos Perrella já pousou no aeroporto? Quantas vezes? Qual a carga declarada?

Por que a chave do aeroporto ficava com o tio?

Se o aeroporto ficava fechado, como Aécio usava? Quem abria o portão para ele? Quem acendia os holofotes do aeroporto para ele pousar a noite?

Quem paga a conta de luz do aeroporto fechado, para Aécio pousar à noite?

Por que o Aeroporto só tem cerca para o povo não entrar pela frente e não tem cerca separando a fazenda do tio?

Qual o valor de mercado da área desapropriada de terras do tio?

Qual investigação o governo mineiro está fazendo em relação aos 60 kg de cocaína apreendidos a 24 km do aeroporto de Cláudio, e cuja fuga do traficante preso contou com a ajuda de um primo de Aécio, segundo processo movido pelo Ministério Público?

Qual a política de segurança do governo de Minas para evitar que o aeroporto fechado seja usado para voos clandestinos do tráfico de drogas?

O Aeroporto de Cláudio já recebeu vôos provenientes da Colômbia? E do Paraguai?


Estas seriam algumas perguntas.

Se os tucanos não bloqueassem a CPI do Aécioporto, não há sigilo nenhum nas perguntas, e Aécio poderia se preparar o quanto quisesse para respondê-las.

Não existe o conceito de perguntas sigilosas em CPI's, ainda mais em sessão aberta transmitida pela TV. E é normal que quem deponha se prepare para responder as questões que sabe que serão perguntadas, até porque estão colocadas na imprensa. É normal até para que o depoente procure nos arquivos as informações necessárias às respostas. 

Até deputados de oposição, se quiserem, podem antecipar o que vão perguntar, caso queiram obter respostas de fato, com seriedade.

Se todo mundo que fala em CPI's for responder de improviso coisas como valores contábeis, datas, atas, contratos, não há memória que consiga se lembrar de tudo, e a própria CPI ficará sem respostas para o que deseja saber. Na melhor das hipóteses, o depoente dirá que precisará levantar as informações e depois enviará as respostas à CPI.

Por isso a "reporcagem" da revista Veja desta semana é que é uma fraude, ao querer dizer que perguntas que seriam feitas na CPI da Petrobras foram "vazadas". Isso é ridículo. Não existe "perguntas sigilosas" em CPI para serem vazadas.

Qualquer parlamentar que queira obter de fato respostas detalhadas e esclarecedoras pode antecipar as perguntas, seja ao depoente, seja fazendo as perguntas em público, para buscar as respostas na sessão da CPI. E os depoentes podem perguntar aos deputados o que eles querem saber mais especificamente sobre assuntos complexos, que necessite levantar previamente em documentação. Inclusive algumas questões a serem perguntadas costumam ser óbvias. São as explicações necessárias para esclarecer o que a própria imprensa aponta como denúncias e levanta dúvidas.

Como era previsível, o mais demotucano dos telejornais, o Jornal Nacional da TV Globo, gastou mais de quatro minutos repercutindo essa "reporcagem" no sábado. Desta vez levaram ao ar as declarações de oposicionistas demotucanos. Na quinta-feira, quando Aécio finalmente admitiu ter usado o aeroporto de Cláudio para uso particular, o JN gastou só dois minutos para falar do assunto sob a ótica da nota oficial distribuída pela campanha tucana, e não levou ao ar nenhuma liderança do PT para comentar.

Tudo isso demonstra de forma cristalina o que a TV Globo e a Veja fazem para dar uma ajuda à campanha eleitoral do amigo deles, Aécio Neves.

Do blog "os amigos do Presidente Lula".