terça-feira, 14 de janeiro de 2014

O jornalismo cafajeste da Folha


Por Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho: janeiro/2014

Preciso registrar e comentar uma matéria da Folha sobre a rotina dos presos petistas na Papuda, por razões arqueológicas. Algum dia, alguém estudará a podridão do nosso jornalismo, que atingiu um partidarismo fanático, inescrupuloso e cafajeste.

A matéria é tão visivelmente tendenciosa que surtirá efeito ao contrário ao desejado.

Em primeiro lugar, os repórteres entrevistam “um apenado que obteve liberdade condicional” e deitam verdades sobre o que todos os presos falam.

Em segundo lugar, vê-se um esforço inaudito para procurar qualquer mínima suposta regalia, com vistas a produzir ainda mais hostilidade contra os presos, dentro e fora da prisão. Aí entra a falta de escrúpulos. O que a Folha deseja: criar animosidade contra os réus junto aos outros presos?

Confiram o trecho e me digam se já leram algo mais estúpido na história do jornalismo brasileiro ou mesmo mundial:

A mulher de um deles relatou à Folha que seu marido, que trabalha como eletricista dentro da Papuda, uma vez foi à cela de Dirceu e tentou puxar assunto, mas não foi correspondido.

“Eles acham que a gente é lixo”, disse o preso recém-solto, que afirma só tê-los visto nas poucas vezes que passou em frente à cela deles.


Como é que é? Um deles tentou puxar assunto e “não foi correspondido”? Qual o interesse em divulgar uma informação tão vaga, tão vazia, tão subjetiva? E a troco de que a Folha agora vai dar credibilidade ao que todo preso fala dos réus “petistas”?

Para que divulgar, tão descaradamente, tão mesquinhamente, os hábitos alimentares dos réus, e sempre de maneira a fazer um contraste com outros presos? E tudo por que? Porque Dirceu toma uma coca-cola na cantina? Eu tenho um parente que foi policial civil na Papuda e ele me disse que há por lá um bocado de presos endinheirados: estelionatários, golpistas, traficantes, ladrões cinco estrelas, corruptos. Nunca houve revolta porque um preso comprou um guaraná e um sanduíche na cantina. Não é do feitio de presidiários terem pensamentos jacobinos ou “igualitários”. A Folha está mentindo – como sempre – quando diz que os presos estão “revoltados” porque Dirceu tem o “privilégio” de beber refrigerante. Isso é ridículo.

A grande ironia é ver a Folha dando continuidade ao linchamento midiático ao mesmo tempo em que fala em “privilégios”. O único fator que pode causar revolta nos presos é se eles perceberem que a mídia deseja uma rebelião, para manter os holofotes sobre os presos do mensalão, ao invés de estar investigando algo novo, como o trensalão paulista ou a máfia de fiscais que agia nos tempos de Serra/Kassab.

Ou seja, os petistas foram condenados num julgamento político, viciado, sob pressão da mídia. São presos novamente de forma ilegal. Estão sentenciados a regime semi-aberto e estão em regime fechado. Estão sendo linchados diariamente pela mídia, sem poder se defender.

E, mesmo fazendo tudo isso, a Folha fala que eles são “privilegiados”!

Ora, Deus me livre de um dia ser um privilegiado assim!

Privilegiado, que eu saiba, são aqueles que são poupados pela mídia. Tem sua vida íntima resguardada. Passeiam em Florença com ninfetas loiras. Tem dinheiro. Estão livres e intocáveis. Podem sonegar bilhões em impostos e ainda posar de santos…

Os réus do mensalão, definitivamente, não são privilegiados. São vítimas de um julgamento viciado, cheio de erros, a demonstração última da mídia de que, se não tem mais poder para ganhar eleições, ainda têm para influenciar o STF e prender inocentes.

Quem deveria estar na Papuda é esse tipo de jornalismo, junto com todos os servidores públicos que se acovardam ou se acumpliciam com as violações de direitos básicos de cidadãos. Mais grave ainda se as vítimas são representantes políticos, porque se viola não somente o direito de indivíduos, mas se agride os milhões de brasileiros que, democraticamente, transferiram suas responsabilidades para aqueles que consideravam preparados para representá-los no parlamento e defender seus direitos.

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